PET INDICA: "Ainda Estou Aqui'
- pethistoriaufrrj
- 21 de dez. de 2024
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Indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme Estrangeiro e pré-indicado ao Oscar, o filme “Ainda Estou Aqui” (2024), dirigido por Walter Salles, é baseado na obra literária de Marcelo Rubens Paiva, de mesmo título, lançada em 2015. Protagonizado por Fernanda Torres, atriz indicada também ao Globo de Ouro na categoria “melhor atriz em filme dramático”, o drama biográfico conta a história de Eunice Paiva, esposa do ex-deputado Rubens Paiva, interpretado pelo ator Selton Mello, e se passa no Rio de Janeiro dos anos 1970. Após o seu exílio na Iugoslávia e na França, Rubens Paiva volta a morar no Rio de Janeiro com sua família. O engenheiro e ex-deputado tem sua casa invadida no ano de 1971 e é levado para um quartel, onde é questionado, torturado e morto. O filme, então, foca em contar a história de Eunice Paiva e sua trajetória para criar seus filhos e descobrir o que aconteceu com o seu marido, na época dado como desaparecido.
A ditadura militar se instaurou no Brasil a partir de um golpe no ano de 1964 e foi até 1989. O período foi caracterizado por anos de violações de direitos que romperam com a democracia e desmontaram os avanços das lutas dos movimentos sociais, no quais estudantes, políticos, professores, jornalistas, artistas e pessoas das mais variadas profissões e classes sociais foram presas, torturadas e mortas. Algumas pessoas, até hoje, continuam desaparecidas. A ditadura se instaurou em 1964, após o Presidente João Goulart, mais conhecido como Jango, ser deposto pelos militares através do golpe. Jango, durante o seu mandato interrompido, proclamava ideias que iam contra o desejo da burguesia brasileira e também contra os desejos dos militares. A ditadura se instaurou logo após o comício organizado pelo Comando Geral Dos Trabalhadores (CGT), ocorrido em 1964, do qual Jango participou e onde prometeu uma reforma agrária, e após a Revolta dos Marinheiros, na qual os marinheiros pediam o reconhecimento da sua associação, a Associação de Marinheiros e Fuzileiros Navais, e a reformulação do regulamento disciplinar da Marinha. Jango, além de apoiar os marinheiros, os perdoou, dando anistia para todos. Assombrados por “ideias comunistas” e indignados com o perdão aos militares considerados indisciplinados, os militares levam à “abdicação” do presidente de seu cargo político e o militar Castelo Branco assume a presidência do Brasil, enquanto Jango se exila no Uruguai.
Ao longo dos anos, o maior acesso à documentação e o avanço das pesquisas acadêmicas sobre o período da ditadura militar no Brasil têm evidenciado a relevância da construção da memória como ferramenta para a defesa da verdade e a promoção da justiça. Dessa forma, acredita-se que este filme contribui para a preservação dessa memória, destacando-a como um instrumento fundamental para exposição de crimes cometidos pelo Estado, muitos dos quais permanecem impunes. Diante de todos os acontecimentos atuais, nos ajuda a reforçar a necessidade de consolidação e defesa da democracia. Por fim, é importante destacar que a história apresentada retrata apenas um entre centenas de casos de desaparecimentos ocorridos durante esse cruel período da história brasileira, deixando muitas famílias ainda sem respostas sobre o que de fato aconteceu com seus entes queridos. “Ainda Estou Aqui” nos mostra como a memória é importante para a História. Combatendo o esquecimento e o apagamento sobre a ditadura militar e suas consequências, o filme personifica a ditadura. Através da história da família Paiva, podemos entender, ainda que minimamente, de uma forma pessoal, como foi a dor de viver durante o golpe.

Texto de Lyzandra Boni Soares e Vitória Maria de Oliveira de Souza.
Revisado por Carolina Gual.
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